A meta de inflação está errada?

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Muito se vem discutindo sobre a meta de inflação do Banco Central brasileiro estar no patamar correto ou não. Eu não quero ser dono da verdade mas trazer os pontos levantados e expressar a minha opinião sobre esse tema.

Vamos aos fatos
A história começa com o novo governo iniciando um processo de fritura da persona Roberto Campos Neto, onde nas últimas semanas foi alvo de algumas personalidades do governo. As principais questões de Lula é o fato do Banco Central ser "independente", pois na sua ideia o BC é "autônomo" mas deveria sim ser dependente do executivo. Além disso, Lula também acredita que perseguir uma meta de inflação de 3% é irreal para atual situação do Brasil, e advoga por um aumento de 1,5% nessa meta.
Lula também afirma que a SELIC está injustificadamente elevada, dificultando o empresário brasileiro em investir e crescer no país, afirmando que seus governos anteriores foram os com maior responsabilidade fiscal.

Comentário: A reação do mercado com essas declarações foram naturalmente de estresse, afinal ao retirar a independência do BC a autarquia perde poder decisório técnico e volta a ser vítima da necessidade política. É imprescindível termos um banco independente para lidar com os choques econômicos e qualquer ameaça a economia local. Abaixo imagem do spread aberto entre os juros longos e curtos:
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RCN em entrevista no Roda Viva foi muito frio e cauteloso com as respostas, um tom apaziguador ditou a entrevista. Declarou que existem motivos técnicos para a Selic estar elevada, não apenas risco fiscal, pois o IPCA núcleo ainda esta em 9%, o que pressiona muito o guidance. Salientou que risco fiscal não é um risco novo, pois no governo anterior isso também era realidade. Uma mudança por força bruta pode causar estresse no câmbio e na curva de juros, pressionando mais a inflação e a dívida pública, esse tipo de mudança [meta fiscal/juros] devem ser discutidas sim, mas no âmbito técnico e não no âmbito político.
Para finalizar garantiu que ele irá ao senado para responder todas as questões dos senadores, afinal, esse é o seu trabalho.
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Curva de juros longa precificando premio de risco

Comentário: Depois de levantar a bandeira branca, aparentemente a patota do governo baixou o tom contra a persona RCN, mas seguiu no embate "anti-rentista" nas palavras da Gleisi, contra a Selic alta e juro real positivo. Os pontos positivos foram que o Roberto deixou claro que ele tem motivo para trabalhar com Selic nos níveis atuais e que não está fazendo política monetária diferente para cada governo. Ele deixou aberto a discussão sobre a meta de inflação e sobre a Selic, o que nos leva ao próximo fato, comentários de gestores influentes no BTG Conferece.

Durante o BTG CEO Conference, na presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, três economistas influentes no mercado financeiro concordaram que o aumento da meta de inflação é necessário. Os economistas Rogério Xavier, da SPX Capital, o Luis Stulhberger, do Fundo Verde, e André Jakurski, da JGP Capital debateram o tema com o ministro na plateia.
  • Segundo Xavier, a redução das metas foi definida antes dos choques inflacionários da pandemia e da guerra da Ucrânia, que mudaram completamente o cenário. Por isso, diz, não faz sentido que o Banco Central pratique juros reais elevadíssimos para buscar uma meta de 3% em 2024. “A meta de inflação está errada".
  • Para Stulhberger a meta é irrealista, embora ele admita que a visão de mudá-la não é consenso no mercado. “A discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo. E não implica perda de credibilidade. Mas precisamos de um arcabouço fiscal crível”.
  • Jakurski também afirmou que a meta está fora de lugar. “Os juros reais no Brasil são impressionantemente altos e o país não vai dar certo com isso”.

Após o trio, o ministro Haddad deixa claro seu ponto de vista sobre a meta de juros, sobre não ser crível a meta de 3% para o objetivo que o governo tem atualmente. Acrescenta que seguem estudando exemplos internacionais de regra fiscal, enaltecendo que nenhum país adota uma regra que não consegue cumprir. O prazo para o arcabouço fiscal foi definido pra agora em março.

Comentário: De todas as falas apenas fica claro que o Lula convenceu a todos que era hora de debater o assunto, ele não convenceu apenas seu ministro, mas também o mercado. O mercado não estressou com essas falas principalmente pelo fato de que é crível mexer na meta e na taxa de juros uma vez que tenhamos um arcabolço fiscal com regra definida, que da horizonte e segurança para investimento no Brasil. O mercado festejou e jogou as expectativas lá para março, quando o ministro definiu data limite para definições da regra fiscal.

R$0,05 centavos de opinião

Porque todo esse rebuliço veio a tona?
Ao meu ver o Lula está sim mordido pelo fato de ter um presidente do Banco Central que não tem a ideologia alinhada com a dela, independentemente de sua competência, o próprio Lula afirmou que a "cabeça política" do RCN não é a mesma da dele. Mas esse não é o pulo do gato.

Imagine você presidente da república recém eleito querendo mudar as coisas porém com o seu país em rota de recessão, consegue imaginar?
Totalmente justificada as questões levantadas pela base do governo. Com uma meta de juros em 3%, veremos uma convergência real lá para 2025 ou além. A política monetária restritiva impede o pequeno empresário e dificulta para o grande fazer novos investimentos, expadir o negócios e aumentar a contratação de mão de obra, em outras palavras, atrabalha o rápido crescimento do país.

Todos esses fatores são de fato reais, subir a meta de inflação para 4,5% é a solução? Do ponto de vista que facilita a convergência, sim. Do ponto de vista controle inflacionário teriamos que elevar a Selic para 15%. Contraproducente, não?
Aumento da meta de inflação com corte na Selic só pode vir com uma regra fiscal firme que impede o executivo de contratar mais dívida elevando o prêmio de risco futuro nos juros, por isso a regra fiscal que será apresentada pelo ministro Haddad (que cá entre nós tem feito um ótimo trabalho) será de suma importância.

Já tivemos um Conselho Monetário Nacional onde não foi pautado revisão da meta, pois o ministério da fazenda deseja antes de mais nada definir a regra fiscal para acalmar o mercado antes de mexer nas metas.

Eu particularmente não tenho conhecimento suficiente para me posicionar, nesse caso eu fico ao lado do RCN que é o profissional competente que vem fazendo um excelente trabalho até o momento. Sobretudo, temos olhar para as decisões sem viés e com olhar de investidor profissional, certo?

Ótimo carnaval à todos.
Note
Na última semana tivemos a vitória do Ministro Haddad sobre a desoneração dos combustíveis, onde disputou em uma queda de braço com as lideranças do PT que eram contra a reoneração.

A desoneração é vista como positiva e consiste em tributar novamente PIS e COFINS na gasolina e etanol, garantindo receita para os cofres do governo.

A tributação ficou assim: A reoneração da gasolina foi de R$ 0,47/litro, subtraindo a diminuição de R$0,13 do preço da gasolina saindo da refinaria, saldo é de R$ 0,34. Para compensar diferença de arrecadação de R$ 0,69/litro para R$0,47/litro, MME aplicará imposto sobre óleo cru por 4 meses. A reoneração do etanol ficou em R$ 0,02 para estimular a indústria doméstica. O imposto sobre o diesel e querosene de aviação ficou isento até o fim do ano. Em reusmo a reoneração geram 28,3bi em 2023, sendo que deste 6,6bi vem do imposto sobre o petróleo.

Naturalmente as petroleiras chiaram, mas o vitória foi engenhosa. Haddad não deixou de mencionar que está trabalhando muito para mostrar comprometimento e resiliência do fiscal, consequentemente passando a bola para o BC reduzir os juros.

O ponto é que só isso não é o suficiente para iniciar o corte, mas a pressão continua. Essa semana o ministro ainda anunciou que a regra fiscal deve sair em breve, e essa é a bala de prata para deixar o RCN em uma posição complicada frente aos pares políticos do governo. Haddad quer que a regra seja anunciada ainda antes do próximo COMPOM (22/03), isso significaria dois gols do ministro contra o RCN, e consequentemente o BC teria que mostrar o serviço esperado.

Os juros seguem estressados, pois precificam uma medida que ajuda no curto prazo mas não resolve o problema a longo prazo. Sobretudo, o arcabouço fiscal é a bala de prata.

Sigo de olho.
Note
A ata do COPOM que foi divulgada hoje nos trouxe uma visão muito parecida com o comunicado na última reunião de política monetária, que foi na última quarta-feira 22/03.

O BC tenta deixar claro os fatores que causam desancoragem na inflação, e que riscos ainda estão presentes não eximindo o BC de seguir com dose contracionista. São 3 fatores negativos e 3 pontos que ajudam.

Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
(i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
(ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e
(iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Entre os riscos de baixa ressaltam-se:
(i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
(ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
(iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Pensando no fiscal, o Copom enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos. No entanto, o Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos.

A ata ainda clarifica que a harmonia entre a instituição e o governo reduz distorções, incerteza e facilita o processo de desinflação, mostrando que o processo de fritura da figura RCN descreditação da autarquia Banco Central apenas cria incerteza e ruído no horizonte dos investidores.
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Este é um estudo pessoal e não recomendação de investimento. Negocie pelo seu próprio risco.
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